Caminho de Santiago de Compostela - O Caminho Francês Original

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

De Lisboa a Santiago sem se perder

Abaixo reproduzo entrevista publicada no site http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=187&id_news=466923 acerca do lançamento de mais um guia do Caminho Português para Santiago


"As férias terminaram para muitos mas há ainda alguns agraciados. Para esses, uma óptima sugestão é fazer o Caminho de Santiago, concretamente percorrendo o Caminho português, um itinerário de certo modo ainda desconhecido pelos peregrinos de todo o Mundo, que preferem fazer o mediático Caminho francês. Para a travessia é obrigatório levar o «Caminho Português de Santiago», obra editada pela Livros d´Hoje. Durante um mês Carlos Carneiro e Jorge Vassallo (autores na mesma editora do livro «Até onde vais com 1000 euros?») seguiram as setas amarelas para indicarem aos interessados o melhor caminho a seguir sem problemas tendo como destino final Santiago de Compostela, seja a pé ou de bicicleta. «¡BUEN CAMINO!»
Este ano o Caminho de Santiago comemora o Ano Santo Jacobeu, algo que acontece quando o dia 25 de Julho, dia de Santiago, é um domingo. O próximo ocorrerá apenas em 2021. Por isso, e apesar da data já ter passado, é quase obrigatório percorrer o caminho este ano, mesmo que não seja por motivos religiosos:
«O Caminho de Santiago é acima de tudo uma rota que nos faz redescobrir o lado mais simples da vida e isto aplica-se a crentes e não crentes. As razões para dar o primeiro passo são variadas e para além do turismo e religião que refere, há ainda quem vá por desporto, contacto com a natureza, tirar umas férias super low-cost e até sarar desgostos de amor! É esta diversidade que faz do Caminho algo tão rico e surpreendente.»

O que falha no Caminho Português e o que ele tem de positivo e de diferente para os restantes? A grande falha do Caminho português é também o seu grande trunfo: ainda está a dar os primeiros passos. Isto sente-se principalmente nas infra-estruturas, sendo esta realidade mais evidente entre Lisboa e o Porto. Perde-se em previsibilidade e certezas – que teremos um albergue à nossa espera a cada «x» quilómetros com o Menu do peregrino num restaurante mesmo ao lado. Ganha-se em espontaneidade, aventura e num contacto humano mais genuíno, que se surpreende com a nossa passagem. E as alternativas ao Albergue e Menu peregrino existem! Foi isso que procurámos exaustivamente e apresentamos neste guia.
Já fizeram alguma das outras rotas? Se sim, que comparação poderiam fazer com a nossa? Foi para ambos uma estreia no Caminho de Santiago e ficámos com uma enorme vontade de fazer as outras rotas. Conhecemos inúmeros peregrinos que fizeram ambas e os comentários giram sempre em torno da maior organização e afluência de peregrinos nas outras rotas – com a vantagem de se fazer bastantes conhecimentos, às vezes amigos para a vida, e a desvantagem de nos picos de afluência poder haver sobrelotação dos albergues. A paisagem e beleza natural também são muito diferentes. Aí os gostos são diversos.
Garantem que quem comprar este guia vai chegar definitivamente a Santiago? Só há uma maneira de chegar definitivamente a Santiago – seguir a seta amarela! É incrível pensar que de Lisboa a Santiago há um percurso marcado na totalidade, com setas em cada cruzamento, em cada esquina. Este guia é o complemento das setas, que permite organizar os dias para fazer uma caminhada descansada, tirar eventuais dúvidas na sinalização, ter sempre tecto para dormir, sítios para comer e muitas outras informações úteis – incluindo a preparação e o regresso a casa.
Como é visto o peregrino no Caminho Português pelas populações? De Lisboa ao Porto poder-se-ia dizer que muitas vezes é invisível! Passámos por muitas aldeias em que os habitantes não faziam a menor ideia que o Caminho passava mesmo à porta de suas casas. Alguns até achavam que as setas amarelas eram «coisa dos miúdos» e até sinaléticas de ladrões para roubar casas! Depois de nos explicarmos os sorrisos e a curiosidade abrem com facilidade. A partir do Porto já é comum verem-se peregrinos a passar e quando entramos na Galiza ainda mais. As reacções são sempre de encorajamento, ajuda, inveja saudável e entusiasmo.
Acredita que as instâncias turísticas do nosso país ainda não acordaram da potencialidade do Caminho Português, como acontece em Espanha, por exemplo? Acreditamos plenamente e com alguma estranheza. Manter o Caminho, as sinalizações em parceria com o poder local e disponibilizar locais com dormidas em pontos-chave seria um investimento, para nós, claro como a água, e aparentemente com um orçamento baixo. O Caminho leva as pessoas a conhecer e sentir um país com uma calma única, passo a passo, aldeia a aldeia ao longo de muitos dias, muitas amizades, muitos encontros. E é algo que os peregrinos fotografam e levam consigo para as suas casas! Ou seja, o potencial turístico vai muito mais além do próprio Caminho. O grande boom no passado recente do Caminho foi resultado directo de um enorme investimento feito por parte da Junta da Galiza. O Caminho português foi evoluindo devagar e graças aos esforços das entidades locais e particulares, a par da boa vontade de muitas Corporações de Bombeiros que acolhem os peregrinos para dormir
É notório o cuidado que tiveram com as informações. Como fizeram a recolha de material? Quantos dias estiveram em campo? Estivemos um mês no terreno, de bicicleta, com o bloco de apontamentos sempre à mão, ou no nosso caso, nos cestos das bicicletas. Para facilitar as coisas dividimos o trabalho em dois – o Jorge Vassalo fez tudo o que era do Caminho em movimento (percurso) e passava o dia de olho no conta-quilómetros e nas setas; o Carlos Carneiro tudo o que era paragens (infra-estruturas) e acelerava de aldeia para aldeia. Depois passámos cerca de dois meses a organizar todos os dados.
O Caminho Português está preparado para receber qualquer peregrino? Para qualquer um dos Caminhos a condição física é obviamente importante. Depois é uma questão de tempo e de espírito de aventura. Para se fazer o Caminho português entre Lisboa e Porto é preciso estar preparado para dormir nos Bombeiros voluntários pois às vezes é a melhor alternativa – para não ter que se fazer etapas muito longas.
Qual a parte mais complicada no caminho? E a mais bela e a mais feia? A parte mais complicada do Caminho em termos físicos é a subida da Labruja - a maior de todo o Caminho -, principalmente para quem vai de bicicleta, pois terá de a levar às costas. Mas, chegando ao topo, a sensação é inesquecível! As partes feias do Caminho aparecem quando atravessam grandes centros urbanos. E de todas elas talvez a saída do Porto seja a pior. A mais bela? É de difícil resposta. Logo depois de passarmos o Parque das Nações em Lisboa ficamos boquiabertos com um trilho fabuloso em plena Sacavém. E admitimos a nossa ignorância - local que jamais imaginaríamos. Até chegar a Compostela vamos descobrindo um Portugal completamente novo. E claro, a nossa vizinha Galiza.
Há diferenças em termos de estrutura quando entramos em Espanha? Há grandes diferenças pois leva uns bons anos de avanço – os albergues são em muito maior número, logo com distâncias mais curtas entre eles.
O Caminho Português começa mesmo em Lisboa? O Caminho começa à porta de casa. Esta é a regra original - os peregrinos saíam de casa a pé e iam-se juntando nas estradas principais, afunilando em maior número à medida que se aproximavam do destino. Os tempos mudaram, os meios de transporte evoluíram e Lisboa é um excelente ponto de partida – é aqui que começam as setas, a primeira de todas pintada na base da Sé de Lisboa. Mas não há limites – conhecemos quem começou no Algarve! Bom Caminho! "


Publicado em: quarta-feira, 1 de Setembro de 2010 11:14 por Pedro Justino Alves

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