Caminho de Santiago de Compostela - O Caminho Francês Original

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Como seguir pelo caminho?

O percurso entre o ponto de partida e Santiago de Compostela, até a catedral, pode ser muito longo... no nosso caso, que saímos de Saint Jean Pied du Port, França, foi de 900 km. Como seguir num caminho tão longo sem se perder? No nosso caso passamos por mais de 100 diferentes cidades... de 5 a 10 km entre elas repletos de bifurcações. Em cada cidade o caminho passa pelo albergue - em algumas são dois ou três - passa pelo centro de turísmo, quando existente, passa pela praça central e pela igreja matriz... ufa!. Imagine quantas esquinas dentro da cada cidade... quantas curvas temos de fazer, quantas escolhas e decisões de que caminho seguir... vezes 100 cidades... vezes 900 km... faça as contas... quantas oportunidades de se perder e ir parar lá em Ibiza... o que pode ser bem interessante afinal.
Lembrando ainda que o percurso mais tradicional é o que fizemos, mas que este é só um dos percursos possíveis... existe o Caminho Português, o Caminho Inglês... pode começar o caminho que em Paris, em Roma, em Amsterdan... enfim, a Europa inteira pode ser origem para a caminhada. Mas como não estamos no antigo império Romano, onde todos os caminhos conduziam a um só destino, como fazer para ter certeza que estamos indo na direção certa?
Com este objetivo os mantenedores do caminho colocaram de tanto em tanto vários sinais facilmente identificáveis que nos mantém na rota certa. Em cada esquina, em cada bifurcação, em cada ponto de dúvida há uma flecha amarela, uma concha, um sinal indicativo que nos mostra qual a rota certa.
No começo, assim que saímos do primeiro albergue, ficamos meio apreensivos de como seguiremos um mapa cruzando um país por estradas secundárias... Parece que o mapa é a nossa única esperança de chegar lá e ao mesmo tempo um bicho de 7 cabeças...
Logo na porta do albergue vemos a primeira flecha. Elas já eram famosas pois muitos já haviam escrito sobre elas.
Logo que seguimos a primeira flecha vamos encontrando as ruas e estradas que aparecem nos mapas... opa, está dando certo, mas ainda há uma certa insegurança em seguir estes sinais... o mapa é o apoio que confirma a rota. Com o passar dos quilometros vamos cada vez mais confiando nos marcos e logo apenas eles nos guiam, o mapa vira um mero apoio para sabermos quantos quilometros faltam ou qual é a próxima cidade... mas sem dúvida o caminho é feito seguindo-se apenas as setas. Tantoq que quando ficamos muito tempo sem ver uma delas logo nos preocupamos... - será que erramos o caminho? - logo aparece o marco salvador indicando que estamos no caminho certo. Ele está lá... na parede, no postinho de cimento, feito de pedras, na concha colocada no calçamento, na flecha pintada no meio-fio... ele está lá. Se você percorre muito tempo sem ver algum deve voltar e refazer o caminho... em algum lugar você errou o caminho e vai ver a seta discreta que passou desapercebida.
Algumas vezes ele é extremamente redundante... dois ou três marcos na mesma esquina... outras vezes é bastante discreto... apenas uma conchinha amarela colada numa parede, uma setinha pintada numa placa de sinalização de trânsito, uma seta formada por pedras colocadas no caminho por alguns peregrinos...
Mas não tenha dúvida... você vai ficar extremamente sensivel a estes sinais, vai percebe-los à distância, sem nem sentir vai estar no caminho certo e quando se der conta vai estar no marco zero.
Bem, não deixe de ter um mapa... um bom guia pode lhe dar a segurança de saber quanto falta para a próxima cidade... se esta é pequena ou grande, se tem albergue, etc... Mas quanto ao caminho certo... é só seguir as setas.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

A chegada

A chegada em Santiago é emocionante... mas isso é óbvio, eu sei... afinal todos dizem em seus relatos como choraram, como se abraçaram, como se emocionaram ao reencontrar companheiros do caminho, como se arrepiaram ao ver a catedral... Não precisa ir até lá para saber disso.
Mas a chegada é mesmo uma emoção a parte... tão perto e tão longe. Explico... quando faltam poucos quilometros e já estamos chegando na cidade começa a zona comercial... roda-se bastante por ali até chegarmos no centro da cidade... até então é só uma cidade.... mais uma... cheia de carros, calçadas, pessoas, buscando as flechas amarelas que insistem em se esconder. Quando chegamos no centro começamos a sentir a energia dos grandes centros urbanos... muita gente caminhando pelas ruas que deixam de ser ocupadas pelos carros para fazerem parte das calçadas que já não comportam mais a massa de gente. Mas é uma gente diferente da que se vê nas demais cidades médias do percurso.
Santiago é uma cidade de 93 mil habitantes... não é grande nem a maior pela qual passamos. Logroño tem 133 mil, Burgos 169 mil, León 145 mil, Ponferrada 63 mil, Pamplona 186 mil. Todas cidades grandes mais ou menos iguais... periferias mais feias, repletas de comércios, grandes vias expressas. Os centros são confusos, com ruas estreitas, prédios históricos e muitas pessoas caminhando pelo leitos das ruas. Mas na chegada ao centro de Santiago tem-se a impressão... depois achei que equivocada, que todos andam na mesma direção, todos vão seguindo em uma grande peregrinação para o centro, para a praça do Obradoiro, para a frente da Catedral. As pessoas são diferentes também... difícil determinar o que muda, mas com certeza o espírito da multidão é outro... e você está ali, fazendo parte daquilo e aquilo tem um sentido que só é sentido por quem chegou lá. não dá pra entender né?... eu achei também quando li dezenas de relatos... mas acredite... é diferente.
Chegando na praça constatamos que nosso amigo português mentiu desavergonhadamente para sua companheira de viagem: Não existem bares ao redor da praça do Obradoiro onde se pode sentar e ver os peregrinos chegarem emocionados. Se quiser esperar alguém, como esperamos o Nicolau, terá de fazer isso em pé ou sentado no chão e se chover, como choveu, vai correr para a marquise do Pazo de Raxoi (sede da Xunta - Prefeitura).
Na seqüência vai cumprir o ritual do peregrino: No altar da catedral vai passar pela escada que dá acesso ao próprio, por cima de onde onde está a tumba do apóstolo. Aí poderá ver a riqueza da catedral e do altar, os aparatos e afrescos são impressionantes. Existe um busto dele cheio de pedrarias e uma imagem famosa do Santiago matamoros. Descendo do outro lado do altar volta agora por baixo, onde poderá ver a arca e fazer sua oração de graças ao apóstolo.
Depois voltamos para a entrada principal, da praça do Obradoiro, onde está o Pórtico da Glória. Ali estão apóstolos, Jesus Cristo Ressuscitado, anjos, os condenados profetas, Santiago Apóstolo e o mestre Mateo, escultor que fez o pórtico. Aí reza a tradição peregrina deve-se colocar a mão bem ao centro da coluna central do pórtico e em seguida bater três vezes com a cabeça na cabeça da imagem do mestre Mateo, bem atrás desta coluna. Infelizmente o patrimônio de Santiago achou por bem proteger a obra de arte do desgaste que tais rituais estavam provocando e colocou uma grade que mantém o peregrino a uma distância segura do portal. Desde então não se pode mais pedir a sabedoria do mestre com as batidinhas de cabeça... ou seja, voltei tão burro quanto fui.
Em seguida fomos ao lado da Catedral registrar nossa chegada, indispensável para quem quer receber a Compostelana. Atenção: quando perguntam se a viagem teve objetivo religioso ou religioso e outros (Turístico, cultural, esportivo, etc) ou não religiosos, é importante que se responda religioso ou religioso e outros se você pretende receber a compostelana... caso contrario a igreja fornece um documento de conclusão do caminho com a bênção da igreja, mas não é a compostelana, pois está só é dada para os que fazem a peregrinação com fim religioso. Claro que ao Edú dizer: "- Não religioso!" todos as pessoas do setor pararam para ver quem era aquele recém chegado... fez-se silêncio e em seguida todos olhavam e cochichavam ... Mas o Edú não é o anti-Cristo, é apenas sincero ou, como ele mesmo se define, não hipócrita.
O fato é que o certificado dele é diferente.
Depois voltamos para a praça do Obradoiro buscar o marco zero do caminho (Existe outro em Finisterra, mas isso está em outra história - postagem). feita a foto ali demos por concluído o caminho... 900 km de bike... vale a pena. Tenho certeza que farei de novo.
Em seguida ficamos procurando os botecos... Maldito português mentiroso... só encontramos nas transversais... e aí eles são muitos, intercalados com as lojas de lembranças. Achamos um bem bacana (cheio de calamares, peixes e lagostas na vitrine) e entramos felizes para almoçar e fazer hora para achar o Nicolau. Só descobrimos que ele ía atrasar bem mais tarde... mas ele chegou.
No dia seguinte a última etapa da peregrinação... fomos a missa do peregrino que ocorre todo dia ao meio dia... Nesta missa são listados todos os peregrinos que chegaram na vépera

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Léon

Saindo de León tem um rio e um parque... impossível não parar para curtir um pouco a natureza. Sei que parece papo de maconheiro... mas garanto que não tem nem drogas nem viadagem nisso só contemplação mesmo.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Mil palavras

Cada vez que me perguntam do caminho eu fico meio sem o que dizer... parece ridículo, mas depois de 25 dias viajando a gente vê e vive tanta coisa que não sabe nem como começar a contar, não sabe o que vai ser mais interessante, não sabe se abrevia tudo para fazer um resumão de dez linhas ou se prioriza um ou outro fatos relevantes e detalha estes com a riqueza de detalhes que merecem.
Se a pessoa não pedala eu tenho vontade de suprimir um pouco detalhes do pedal em si, pois acho que podem ser tediosos... se a pessoa é de idade tento lembrar mais das coisas históricas da Europa que sempre interessar para os antigos... se a pessoa pergunta por educação eu tento resumir em poucas palavras: Fantástico, inesquecível, maravilhosa...
Mas o fato é que depois que se faz o caminho é que se compreende porque tantas pessoas chegam de viagem e logo vão escrever um livro sobre suas experiências. São tantas as coisas que se vive durante a viagem que não se pode contar em apenas algumas frases ditas em uma conversa rápida.
Assim, na falta de saber o que dizer, eu tenho dito simplesmente: Visite o Blog, lá tem tudo para quem quer ler muito ou pra quem está com pressa e só quer ver umas fotos. Está tudo aí... veja o quanto quiser.
Rubens

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Mais fotos

O caminho de santiago é assim... Trilhas bem viáveis, na maioria das vezes, com um visual maravilhoso, num constante sobe e desce pelos morros e serras espanholas.

Nesta época que fomos pegamos todos os tipos de clima... sol, chuva, frio e calor. Nestas fotos, que são do começo da viagem, estamos sempre de jaqueta, mas no fim da viagem já estavamos passando o dia todo de bermuda e camiseta.
No comecinho levamos azar e pegamos frio e chuva juntos... aí o bicho pega... blusa, capa de chuva... derretendo de suor, mas sem poder tirar a blusa para não passar frio...
Não temos muitas fotos com chuva pois era desanimador parar para fotografar... Mas estas com a névoa mostram bem com eram nossas saídas dos albergues, por volta das oito da manhã.


Aqui dá pra ver bem como é o piso da maior parte das trilhas... muitas pedras soltas, mas um piso relativamente plano e sem muitas erosões. É o tipo de trilha que costumamos pedalar no cicloturismo que fazemos aqui pelo sul do país, por isso não foi muito dificil se adaptar. A diferença está em que há um pouco mais de pedras e muitos pedestre com suas mochilas enormes a serem desviados com muito cuidado. Sempre convém lembrar que estes peregrinos já estão no caminho por 10 ou 20 dias mais que nós, além de serem, em sua maioria, sexagenários... Muito cuidado com eles. Importante anunciar sua chegada, seja com uma campainha, seja com um sonoro alô e, em seguida, desejar um bom caminho ao peregrino.

Esta foto é bem no alto dos Pirineus, um pouco antes de chegarmos em nossa primeira parada para comer, que foi em Roncesvalles. Na verdade é uma serra do mar um pouco mais pesada, nada mais que isso... para quem pedala com certa freqüência é fácil de transpor.